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Ramsay e os Graus Superiores – uma visão diferente

Por Leif Endre Grutle – Traduzido por Rodrigo Menezes

Publicado originalmente na  The Plumbline Volume 24, No. 2 (verão de 2017). Revisado em março de 2018 e fevereiro de 2019.

Todo estudante da Maçonaria Europeia, principalmente se estiver interessado no desenvolvimento dos graus superiores e da Cavalaria na Maçonaria, encontrará o nome de Andrew Michael Ramsay. Esta figura enigmática ainda ganha atenção e sua suposta influência foi, por exemplo, um dos principais temas para workshops e trabalhos na Segunda Conferência Mundial sobre Fraternidade, Maçonaria e História em Paris, em maio de 2017. Ramsay merece a posição que historiadores lhe reservaram como uma peça-chave no desenvolvimento dos rituais Maçônicos. No entanto, sou da opinião de que os pedaços disponíveis sobre Ramsay, e o que se sabe sobre seu trabalho, bem como a época em que ele viveu, pode ser organizado para formar uma visão alternativa, que mostra que sua influência hoje é considerada um tanto exagerada.

Quem foi Ramsay?

Este não é o lugar para uma visão completa da vida de Ramsay, mas para os interessados, biografias detalhadas estão disponíveis em outros lugares.(1) No entanto, alguns eventos devem ser mencionados: Ramsay era filho de um ministro episcopal em Edimburgo e foi provavelmente nascido em Abbotshall, em Fife, em meados de junho de 1693. Completou sua educação na Universidade de Edimburgo em 1707 e foi empregado como tutor em uma família nobre em 1708. Posições semelhantes também devem ter sido o seu sustento mais tarde.

Por volta de 1710, ele deixou a Escócia, para a França, e poucos meses após sua chegada, se converteu à fé católica devido à influência do arcebispo Fénelon. Ramsay voltou para Escócia em 1715 para se juntar ao exército jacobita, foi capturado após a Batalha de Preston em novembro do mesmo ano, mas escapou e fugiu de volta para a França.(2)

Em 1716, chegou a Paris, onde residiria até sua morte em 1743. De 1717 a 1722 trabalhou novamente como tutor. Seu empregador em Paris era um dos conselheiros mais próximos do regente francês, e há motivos para supor que esse relação foi fundamental para que fosse nomeado Cavaleiro em 20 de maio de 1723 da L’ordem de Saint- Lazare de Jérusalem , pelo qual adquiriu o direito de usar o título de “Chevalier” (Cavaleiro).(3)

Ramsay, no entanto, aspirava glórias maiores. Em Paris, ele fez contato com a alta cúpula jacobita, e em várias ocasiões expressou sua lealdade ao exilado Tiago Edward Stuart (James III) como o legítimo rei da Grã-Bretanha. (4)

Não está claro se Ramsay ainda era um defensor da causa Stuart, ou se ele apenas achou oportuno explorar as circunstâncias. No entanto, James Edward parece ter adquirido grande estima sobre ele. Quatro dias depois de ser Cavaleiro na França, ele recebeu a confirmação do pretendente de que era de família escocesa nobre e, em em 1724, foi chamado à corte dos Stuarts em Roma como professor do filho de James Edwards, Charles Edward, que tinha cerca de quatro anos de idade. No entanto, foi uma empreitada malsucedida, e Ramsay retornou a Paris em poucos meses. Continuou, no entanto, a manter contato com a comunidade jacobita e em 1735 James Edward o elevou a Barão Escocês. Ramsay também foi autorizado a passar seus últimos anos em Saint-Germain-en-Laye, o palácio dos Stuarts perto de Paris.

Palácio de Saint-Germain em Lave

O Maçom Ramsay

Em 1727, Ramsay publicou com sucesso o romance Les Voyages de Cyrus. Em meados de 1729, viajou para a Inglaterra em conexão com a publicação da tradução de seu livro e ficou no país por cerca de um ano. Durante seu tempo na Inglaterra, foi nomeado Doutor em Direito em Oxford e eleito Membro da Royal Society. Em março de 1730 foi iniciado na Maçonaria. Isso aconteceu no Horn Lodge. Talvez o Loja mais prestigiada de Londres, onde Desaguliers e outras figuras-chave dentro da Royal Society eram membros.(5)

Ramsay – Les Voyages de Cyrus

Depois que Ramsay retornou a Paris de sua estadia na Inglaterra, há apenas informações indiretas sobre suas atividades como maçom. Em uma carta datada de 02 de agosto de 1737, Ramsay afirma que havia servido como orateur (Orador) durante várias iniciações maçônicas em Paris, e um de seus contemporâneos confirmam que Ramsay era conhecido por fazer discursos em tais “Iniciações”. Acredita-se que o conteúdo de um manuscrito com o título 1736 Discours de M Le Cher de Ramsay prononce a la Loge de St Jean le 26 Xbre (Discursos do Cavalheiro Ramsay, pronunciados na Loja de São João, em 26 de Dezembro), preservados na biblioteca da pequena cidade francesa de Epernay, é esse discurso apresentado por Ramsay para novos irmãos. Supõe-se ainda que o discurso tenha sido usado repetidamente (pelo menos em oito ocasiões), mas pouco ou nada se sabe sobre quando e onde isso aconteceu, exceto em 26 de dezembro de 1736, como especificado no cabeçalho do documento. (6)

No entanto, um documento semelhante está localizado na Bibliothèque municipale de Toulouse (Biblioteca Municipal de Toulouse), intitulado discours prononce à la réception des Francs-Macon (discurso sobre a recepção dos Franco-Maçons), por M. de Ramsay, grand orateur de l’orders (Grande Orador da Ordem). Este manuscrito (e versões posteriores impressas) segue o mesmo esboço como o documento de Epernay, mas a versão de Toulouse é cerca de 20% mais longa. Além disso, algumas partes são expandidas enquanto outras são reduzidas. A versão do texto também é conhecida em dois outros manuscritos, bem como em pelo menos quatro edições impressas no período de 1738 a 1743. (7)

1736 – Discours de M Le Cher de Ramsay prononce a la Loge de St Jean le 26 Xbre

Como esse texto mais longo foi o mais distribuído, é razoável sugerir que foi a última de duas versões que foram produzidos e que a versão mais longa se baseia na mais primeira, mais curta. Cyril Batham acredita que esta segunda versão foi feita porque Ramsay foi convidado a falar em uma reunião na Grande Loja Parisiense em 21 de março do mesmo ano. (8) Apoio essa visão de que que Ramsay reformulou seu texto durante os primeiros meses de 1737, e existem argumentos que dão apoio a isso e que listo abaixo, mas também demonstrarei que as razões poderiam ter sido outras, além de uma reunião na Grande Loja.

A Maçonaria encontra Oposição

Durante a última metade de 1736, a consciência pública sobre a Maçonaria começou a aumentar em Paris. Vários relatos descrevem a oposição do rei Luís XV a esse novo movimento, que atraiu vários jovens da nobreza muito ansiosos, e que mantinha reuniões em segredo de forma organizada (e, portanto, de conteúdo incontrolável). A pressão das autoridades estava aumentando, e o cardeal Fleury, ministro-chefe do rei, e Hérault, Lieutenant General de Police (tenente-general de Polícia), em Paris, começou a procurar contramedidas. A campanha anti-maçônica parece ter começado com Hérault publicando o texto Reception d’un frey-Macon (A recepção de um Frei-Maçom), que supunha ser a revelação de um ritual maçônico, e tinha a intenção expressa de ridicularizar o Ordem.(9) Em 17 de Março de 1737 passou a ser considerado uma ofensa criminal oferecer instalações aos maçons e, em maio, Maçons foram enviados para a prisão, embora muitos membros franceses estivessem protegidos de processos por sua alta posição social. Enquanto a polícia conduzia ataques contra Lojas, o conhecido Coustos-Villeroy Lodge, recebeu visitantes não convidados durante o verão de 1737 e, em setembro do mesmo ano, um dono de estalagem foi multado por hospedar uma Loja. Somente após a morte do cardeal Fleury, em 1743, essas condições melhoraram. (10)

André Hercule de Fleury

Ramsay entra em ação

Com essa situação em mente, pode ser plausível que Ramsay tenha editado seu discurso em uma tentativa de afastar a oposição que ele entendia estar em sendo criada. Ramsay enviou sua nova versão ao cardeal Fleury apenas três dias após a proibição da atividade Maçônica entrar em vigor, e isso pode apoiar tal teoria. O mesmo pode ser dito para as mudanças no conteúdo do discurso: enquanto a primeira versão pode ser descrita como uma representação imaginativa da história maçônica, complementada pela iluminação filosofia e ênfase nas qualidades que eram esperadas dos Maçons, a versão revisada parece ter outro propósito. Neste texto em particular, Ramsay é mais focado em apresentar os Maçons como cidadãos leais dentro da comunidade, e que eles estavam trabalhando para melhorar os costumes e promover a virtude e a ciência.(11) Segundo Ramsay, um maçom, foi obrigado a:

[…] Proteger seus irmãos por sua autoridade, iluminar por suas luzes, edifica-lo pelas vossas virtudes, ajuda-lo em suas necessidades; sacrificar todo ressentimento pessoal e procurar tudo o que possa contribuir para a paz, concórdia e união na sociedade.(12)

Esta segunda versão também tem um caráter claramente mais cristão do que a primeira, e as passagens frequentemente citadas que ligam a Maçonaria aos cruzados medievais podem ser vistas como um instrumento usado por Ramsay para corroborar que o ofício não estava apenas de acordo com cristianismo ortodoxo, mas também de acordo com a Santa Igreja Católica Romana. Ele abordou o tema cruzado na primeira versão, mas em seu retrabalho Ramsay expande o tema de uma maneira pode dar ao leitor a impressão de que a Maçonaria contemporânea se via como herdeira desses antigos guerreiros em serviço da Igreja. (13)

A maneira pela qual Ramsay conclui sua segunda versão também é significativa:

[…] A Arte Real está agora repassando para a França, sob o reinado daquele mais amável dos reis, cuja humanidade anima todas as suas virtudes e sob o ministério de um Mentor que realizou tudo o que poderia ser imaginado como fabuloso. (14)

Esse texto pode muito bem ser percebido como um chamado ao Rei para se juntar aos maçons e se tornar seu líder, bem como um convite semelhante a Fleury, que foi denominado como o “Mentor” no texto. Mais tarde, no mesmo ano, Ramsay revelou qual era o objetivo que ele realmente pretendia alcançar:

Se o cardeal tivesse durado mais um mês, eu teria o “mérito” de discursar para o rei da França, como chefe da confraria e ter iniciado Sua Majestade em nossos mistérios sagrados. (15)

Se esse discurso fosse proferido em uma assembleia da Grande Loja ou não, traria poucas mudanças. O objetivo principal era alcançar o rei com uma mensagem. Quando Ramsay envia o seu manuscrito para Fleury em 20 de março de 1737, ele está se referindo a uma informação planejada, pretexto para garantir uma resposta rápida, como ele pede ao cardeal, para adaptar o texto como ele deseja e, assim, apoiar o trabalho de Ramsay na organização. Em sua carta a Fleury, Ramsay não mostra nenhuma consciência das restrições que haviam afetado a Maçonaria três dias antes, mas pode-se suspeitar que ele foi informado e isso o instigou a entrar em contato com o cardeal.

A resposta de Fleury não sobreviveu, mas dificilmente pode ter sido positiva. Ramsay agiu rápido para limitar o dano e, apenas dois dias após sua primeira carta, ele escreveu novamente para o cardeal, afirmando que acabara de tomar consciência do ressentimento das autoridades contra a Maçonaria e pediu conselhos sobre como se comportar de acordo e, além disso, se ele ainda estava autorizado a participar de reuniões maçônicas. A resposta sucinta de Fleury é famosa: “Le roi ne le veut pas” (não é o desejo do rei). A conclusão das palavras do cardeal devem ter sido óbvias, e Ramsay provavelmente se manteve no anonimato  no que diz respeito às suas atividades maçônicas nos anos seguintes.

Se a reunião na grande loja onde Ramsay deveria fazer sua “oração” realmente foi planejada, ela deve ter sido adiada de 21 para 24 de março. Dada a difícil situação, parece que a reunião foi cancelada e não há vestígios de reuniões em a Grande Loja naquele ano. Assim, o discurso revisado provavelmente nunca foi realizado. (16) Ao contrário do que foi assumido até agora, Ramsay não renunciou a Maçonaria após este episódio. Em conversa com dois alemães que visitam Paris em março de 1741, Ramsay se apresentou como o Grand Chancelier (Grande Chanceler) Maçônico da França e falou com entusiasmo sobre a Maçonaria. (17)

A influência de Ramsay e seus Discursos

Já foi discutido neste artigo que a segunda versão, a revisada, do discurso de Ramsay não foi concebida como um discurso a ser feito na Grande Loja, mas que foi criado apenas para convencer o Rei e seu ministro de que o movimento maçônico era benéfico para a sociedade e retratou os Maçons como fiéis adeptos da igreja e da coroa. Depois que essa tentativa foi inútil, Ramsay e a Ordem Francesa esperaram discretamente alguns anos de repressão. No entanto, muitas vezes se afirma que o texto de Ramsay teve ótima – alguns diriam crucial – importância no desenvolvimento dos graus superiores da Maçonaria e das lendas cavalheirescas. Com base nas evidências históricas disponíveis, e não na lenda maçônica, é necessário desafiar algumas das verdades estabelecidas em relação a este tópico. A intenção não é a depreciação geral de Ramsay e a influência de seus textos.

No entanto, removendo mitos, pesquisas desatualizadas e conclusões infundadas, podemos obter uma imagem mais clara do que poderia ter sido sua contribuição, em vez de apenas redistribuir uma lenda. A seguir, quatro questões diferentes serão discutidas.

  • As lendas óbvias. Ramsay estava, em um estágio inicial, associado à invenção de novos graus maçônicos. Isso não deve surpreender, pois as versões impressas de seu discurso foram algumas das poucas fontes disponíveis para os primeiros estudiosos, e é compreensível que eles escolheram colocar suas teorias nos poucos nomes e documentos conhecidos. Já em 1802, Fessler afirmou que Ramsay introduziu outros graus em Londres em 1728, e isso foi repetido por Thory em 1815. Isso foi refutado mais tarde, no mesmo século, por Schiffman e Gould como alegações infundadas, mas a chama ainda existe. (18) Ramsay também foi associado à criação do Arco Real e do Rite Ancien de Bouillon (Rito Antigo de Bouillon), afirmações que da mesma maneira foram convincentemente rejeitadas. (19) Reivindicações não documentadas como esta, no entanto, ao longo dos séculos, estabeleceram uma forte conexão mítica entre Ramsay e a Maçonaria dos altos graus que se pode suspeitar que serviram de base subconsciente para pesquisadores mais recentes.
  • Os primeiros graus superiores- novas ideias. Até recentemente, a visão predominante entre estudiosos era que o conceito de graus superiores foi concebido na França na década de 1740. Nesse cenário, o discurso de Ramsay era como uma faísca que acendia o movimento écossais (Escocês), mas essa cadeia de eventos foi recentemente desafiada por novos fatos. As fontes disponíveis agora indicam que o primeiro grau superior foi trabalhado em Londres pelo menos já em 1733, e que esse grau (Mestre Escocês) foi introduzido em Berlim em 1742. Não antes do final de 1743 que se tem menção desse grau em documentos franceses, e então é claramente considerado como um ponto recém-formado. (20) Assim, se o berço do primeiro grau superior estava em outros lugares fora da França, as possíveis influências iniciais de fontes francesas como os discursos de Ramsay não são tão óbvias quanto antes.
  • O desenvolvimento de novos graus. Quando a ideia de graus fora além dos Graus Simbólicos acabou sendo introduzida na França, esse país tornou-se um ponto central para o desenvolvimento de novos rituais. Homens que se propuseram a desenvolver novo material ritualístico poderiam ter ouvido o discurso de Ramsay em uma ou mais ocasiões antes de 1737. O discurso também poderia ter sido realizado algumas vezes durante os anos seguintes, apesar de Ramsay provavelmente ter aparecido menos em público com suas conexões maçônicas neste período. Em teoria, ele poderia ter influenciado formadores de graus dessa maneira, mas se Ramsay veio a servir de inspiração para novos graus, é mais provável que isso tenha sido transmitido através das versões impressas dos discursos. A primeira versão de seu discurso parece ter sido impressa pela primeira vez em 1738 e conhecemos reimpressões e outras edições nos anos seguintes. (21) No que diz respeito ao conteúdo dos primeiros graus superiores, que tratavam principalmente do período imediato após a morte do Mestre Construtor, nenhuma das duas versões oferece tanto material quanto influência. A menção a Zerubbabel (Zorobabel)e “o misterioso livro de Salomão” (22) parece ser a parte mais relevante para novos graus, mas depois encontramos apenas os primeiros graus conhecidos no final da década de 1740 como, por exemplo, o grau Knight of the East (Cavaleiro do Oriente). (23)

A segunda versão do discurso de Ramsay foi impresso pela primeira vez em 1742. As principais contribuições inspiradoras nesta versão são, obviamente, as referências a “Nossos ancestrais, os cruzados” (24), a suposta união com os Cavaleiros de São João, como as primeiras Lojas foram criados por nobres que retornavam da cruzada, e em especial como a Escócia era considerada como a conservadora na preservação das tradições. (25) Isso aponta para os graus cavalheirescos e tenho que admitir que a palestra encontrada no grau de Chevalier Elu (Cavaleiro Eleito), descoberta em Quimper e datado de 1750, mostra alguns paralelos com a segunda versão do discurso de Ramsay. (26) Um estudo mais detalhado dos primeiros rituais manuscritos pode revelar outras ligações mais detalhadas de Ramsay, mas em um nível meramente superficial.

  • Poucas ideias originais. O último fator a ser considerado ao discutir a questão do potencial de influência de Ramsay nos graus maçônicos é que uma quantidade considerável de seus textos consiste em plágios. Alain Bernheim analisou isso com mais detalhes e mostrou várias fontes de Ramsay que, por direito próprio, poderiam ter lhe inspirado. (27) Pode-se argumentar que Ramsay foi influente na montagem de material de diferentes fontes e, posteriormente, colocá-lo em um contexto maçônico, mas novamente, é preciso considerar que uma das fontes que ele mais utiliza é o Livro das Constituições de Anderson de 1723 que deve ter sido de conhecimento de grande parte da audiência de Ramsay.

Vale ressaltar também que John Coustos, depois de passar um tempo na prisão a partir de outubro 1742, deu o seguinte testemunho à Inquisição em Lisboa em março de 1743:

… quando ocorreu a destruição do famoso templo de Salomão, foi encontroa abaixo da Primeira Pedra uma tábua de bronze sobre a qual estava gravada [uma familiar Palavra bíblica que significava] ‘Deus’, dando assim a entender que esse Tecido e O templo foi instituído e erigido em nome do dito Deus a quem era dedicado, esse mesmo Senhor, o começo e o fim de uma obra tão magnífica, e, como no Evangelho de São João, são encontradas as mesmas palavras e doutrinas que elas, por esse motivo, faça o Juramento naquele lugar.(28)

Esta lenda é certamente da história da igreja por Philostorgius (Filostórgio), e Coustos provavelmente está apenas explicando por que os maçons fazem seus juramentos no evangelho de São João. Bernheim, no entanto, mostrou que Filostórgio é uma das fontes de Ramsay (embora através de Claude Flery). O testemunho de Coustos, portanto, nos fornece o que possivelmente é uma tradição maçônica independente baseada nas mesmas fontes que Ramsay usava. O que parece ser inspiração de Ramsay em graus recém-formados pode, portanto, confiar em outras fontes também.

Resultado de imagem para Filostórgio
Filostórgio (Philostorgius)

Epílogo

O objetivo deste ensaio não é uma tentativa de provar que Ramsay e sua obra maçônica foi insignificante ou sem influência. No entanto, acho peculiar que Ramsay regularmente recebe um lugar tão importante no desenvolvimento dos graus superiores, sem se raciocinar ou fornecer argumentos. Isso é notável mesmo em trabalhos acadêmicos, e parece que a importância de Ramsay é considerada um axioma. A posição de Ramsay como parte essencial da história da Maçonaria pode ser merecida, mas considerando novos conhecimentos e pesquisa, não podemos mais ver isso como tão evidente, e até que novas fontes sejam descobertas, o significado de Ramsay deve, na melhor das hipóteses, ser considerado indeterminável.

1 – Ver, por exemplo, CN Batham, ‘Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, Ars Quatuor Coronatorum 81 (1968) e L. Kahler, “Andrew Michael Ramsay e seu Manifesto Maçônico”, Heredom 1 (1992).

2 – C. Powell, ‘Novas evidências sobre o início da vida do cavaleiro Andrew Michael Ramsay’, Ars Quatuor Coronatorum 131 (2018).

3 – Ordo Militaris e Hospitalis Sancti Lazari Hierosolymitani foi uma das ordens cavalheirescas fundadas durante as Cruzadas, tendo como principal tarefa cuidar dos leprosos. A Ordem tinha poucos recursos e estava prestes a ser dissolvida após a derrota final dos cruzados na Terra Santa em 1291. O rei Filipe da França ofereceu proteção à Ordem em 1308, ironicamente, apenas um ano depois que ele iniciou a perseguição aos Cavaleiros Templários. A ordem de Lázaro era, portanto, na época de Ramsay, uma ordem real da França, que também gozava de autorização apostólica do papa.

4 – A. Bernheim, Alain, ‘Ramsay e seus discursos revisados’, Acta Macionica 14 (2004). Este artigo foi mais tarde expandido e publicado como livro em francês: A. Bernheim, Ramsay et ses deux discours (Paris: Edições Télètes, 2011).

5 – Os membros proeminentes da Loja fizeram com que suas atividades fossem divulgadas na imprensa, e é um aviso de jornal que nos fornece os detalhes da iniciação de Ramsay. Batham, ‘Chevalier Ramsay. Uma nova visão ‘, 285 e RLD Cooper, The Rosslyn Hoax? (Hersham: Lewis Masonic, 2006), 39-43. A Loja se reunia originalmente na estalagem Rummer and Grapes em Channel Row, Westminster, e foi uma das quatro que uniram forças para formar a primeira Grande Loja em Londres. O Loja ainda é o número quatro na lista da Grande Loja Unida da Inglaterra e agora é chamado Royal Somerset House e Inverness Lodge . C. N. Batham, ‘A Grande Loja da Inglaterra (1717) e suas Lojas Fundadoras’, Ars Quatuor Coronatorum 103 (1991), 30-32, cfr. R. Berman, Schism. A Batalha que Forjou a Maçonaria (Brighton: Sussex Academic, 2013), 124-125.

6- Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, 291-292 e Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 17-23.

7 – Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 20-22, e G. Lamoine, ‘Oração do Chevalier de Ramsay, 1736-37: Maçonaria na França ‘, Ars Quatuor Coronatorum 114 (2002), 233.

8 – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, 288.

9 – AJB Milborne, ‘As primeiras exposições continentais e sua relação com os Textos Ingleses Contemporâneos’, Ars Quatuor Coronatorum 78 (1965), cfr. H. Carr, Harry (org.). As primeiras exposições francesas (Londres: 1971), 1-8.

10 – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, 305, W. McLeod,’ John Coustos: suas lojas e seu Livro ‘, Ars Quatuor Coronatorum 92 (1979), 116, J. Mandleberg, Rose Croix Essays (Hersham: Lewis Maçônico, 2004), 26.

11 – Lamoine, ‘A Oração do Cavalheiro Ramsay, 1736-37: Maçonaria na França’, 234-235.

12 – Lamoine, ‘A Oração do Cavalheiro Ramsay, 1736-37: Maçonaria na França’, 231

13 – As duas versões podem ser encontradas dispostas paralelamente no francês original em Bernheim, Ramsay et ses deux discursos , 67-91. Para tradução para o inglês, consulte Batham, ‘Chevalier Ramsay. Uma Nova Visão’, 298-304 (reimpresso em Heredom 1 , 49-59). Veja Lamoine, ‘A Oração do Chevalier de Ramsay, 1736-37: Early Alvenaria na França ‘para uma tradução anotada.

14 – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 304.

15 – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 291. É concebível, no entanto, que a iniciativa de Ramsay teve o efeito oposto, e o conteúdo do documento enviado à Fleury pode ter influenciado o processo que terminou com a bula do papa contra a Maçonaria em 1738. A. Piatigorsky, Quem tem medo dos maçons? (Londres: The Harvill Press, 1997), 116.

16 – A. Bernheim, ‘Letter to the Editor’ (Carta ao Editor), Heredom 5 (1996), 9-10.

17 – R. Markner, Conversas de Anton von Geusau com Ramsay: Um Exame de seu Diário Original (Documento apresentado na Conferência Mundial sobre Fraternidade, Maçonaria e História , Bibliothèque Nationale, Paris, 27 de maio de 2017). Publicado como R. Markner, ‘Les conversations entre Anton von Geusau et Ramsay: Recherches sur l’original of son journal of voyage ‘, Renaissance Traditionnelle N o 189 (2018), 54-61.

18 – Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 33-35.

19 – WJ Hughan, Origem do Rito Inglês da Maçonaria (Leichester: Lodge of Research, No. 2429, 3a ed. JT Thorp, 1925), 80-82, e BE Jones, o Livro do Maçom do Arco Real  (Londres: George G. Harrap & Company Ltd, 1965), 41-43.

20 – A. Bernheim, ‘Early’ High ‘ou Écossais Graus Originam-se na França?’, Heredom 5 (1996), 96-102. O manuscrito Kloss XXV-334 , afirma que o grau Écossais Anglais (Escocês Inglês) ou Parfait maître Anglais (Perfeito Mestre Inglês) era pouco conhecido na França antes de 1740, e foi introduzido pelos maçons ingleses. Este é provavelmente o mesmo grau mencionado em 1743. Veja: L. Trebuchet, De l’Écosse à léscossisme. Tomo 2 – Volume 2 (Marselha: Ubik edições; 2015), 223-225. Recentemente, mostrei que é altamente improvável que o sueco Carl Fredrik Scheffer poderia ter sido iniciado em graus superiores em Paris em 1737, embora essa seja uma afirmação frequentemente repetida. LE Grutle, «Frimureriske høygrader – myter og fakta», Acta Masonica Scandinavica 17 (2014), 296-297.

21 – Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 42-44.

22 – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 302.

23 – Trebuchet, De l’Ecosse à léscossisme. Tomo 2 – Volume 2 , 371ss.

24 –  Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 299.

25 – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 303

26 – A. Bernheim, ‘A Figura do Cavaleiro Kadosch na na França e em Charleston’, Heredom 6 (1997), 164-165. Veja também: P. Mollier, ‘Maçonaria e Templarismo’, Handbook of Freemasonry (Leiden: Brill, 2014), 88-89.

27 – Bernheim, Ramsay et ses deux discours (Ramsay e seus discursos), 23-32.

28 – Jones, O Livro do Maçom do Arco Real, 43-44

Rodrigo de Oliveira Menezes

M.'.M.'. da Loja Amizade, Trabalho e Justiça nº 36, Or.'. de Umuarama, filiado ao Grande Oriente do Paraná, exaltado ao Sagrado Arco Real pela GLPR e filiado a mais 6 corpos Superiores distintos (SC33PR, MIGCMRSRFB, GCCTRFB, SCFRMB e GCKFRMB-PR).

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